Os princípios ESG (Environment, Social and Governance ou, em português, Ambiental, Social e Governança) vêm sendo cada vez mais incorporados ao mercado imobiliário brasileiro. Dados do estudo ESG na Prática, divulgado pelo CTE (Centro de Tecnologia de Edificações) e pela Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), apontam que 71% das organizações do setor já cumpriam tais práticas no final de 2022 — e, em 29%, essas ações estavam em fase de implementação.

ESG, uma tendência crescente

Deve-se considerar, no entanto, que a adesão às práticas de ESG é uma tendência que atinge todos os mercados. O conceito envolve o compromisso de empresas e organizações ao optarem por estratégias cujo objetivo é reduzir a emissão de poluentes e, consequentemente, seus impactos negativos ao meio ambiente — além de promover diversidade no trabalho, responsabilidade social e, ainda, o estabelecimento de mecanismos para garantir transparência e ética nos processos corporativos.

Mudança cultural e novo mindset

A crescente conscientização das questões ambientais e sociais fez com que os consumidores se tornassem mais exigentes sobre a atuação das empresas e organizações em relação aos princípios ESG, levando-as a uma necessária mudança em sua cultura e mindset — que, é importante observar, deve ocorrer de maneira contínua e efetiva. No mercado imobiliário, diversos aspectos refletem essa transformação. Por exemplo:

  • Design e construções inovadoras

As inovações no design, assim como a utilização de materiais sustentáveis para construir imóveis, assegurar eficiência energética, uso sustentável de água e minimização dos resíduos, contribuem significativamente para reduzir o impacto ambiental — além de reduzirem custos operacionais.

  • Certificações ambientais

Certificações ambientais como LEED, BREEAM, WELL, GRESB, AQUA e Selo Azul possuem um papel fundamental, já que comprovam o compromisso de um projeto com práticas de ESG — e tendem elevar seu valor de mercado.

  • Impacto social positivo

Empreendimentos que aprimoram a qualidade de vida de seus moradores por meio de inclusão de espaços verdes, áreas de lazer, maximização de luz natural, ventilação adequada, acessibilidade, promoção de inclusão habitacional e apoio a projetos sociais, entre outros aspectos, contribuem de modo positivo com comunidades locais.

  • Governança, transparência e ética

Diante da crescente demanda por transparência, as empresas imobiliárias vêm aperfeiçoando suas práticas de governança e lançando mão de políticas claras de ética e responsabilidade corporativa em suas operações, a fim de assegurar a confiança entre investidores, clientes e a sociedade.

ESG nas transações com imóveis

Caracterizações que atendam aos princípios ESG tendem a ser um ponto de avaliação na escolha de imóveis para comprar ou locar. Uma tendência impulsionada especialmente pelos consumidores mais jovens, que chegam ao mercado imobiliário. Esses novos consumidores buscam, seja para adquirir ou para alugar, empreendimentos sustentáveis.

De acordo com um estudo da HSR Specialist Researchers, a Geração Z, de jovens nascidos entre 1997 e o 2010, por exemplo, é particularmente influenciada por fatores como a acessibilidade aos serviços públicos, proximidade do trabalho, comodidades e sustentabilidade ambiental ao escolher um imóvel.

Assim, alguns impactos que tendem a ser mais notados nos clientes do mercado imobiliário são, por exemplo:

  • Atração e relacionamentos sólidos com clientes

Compradores e vendedores de imóveis vêm dando preferência a imobiliárias comprometidas com práticas sustentáveis e responsabilidade social. Além disso, ações de governança éticas e transparentes são essenciais para construir relacionamentos duradouros com clientes.

  • Valorização dos imóveis

Os imóveis alinhados aos critérios ESG, de modo geral, são mais valorizados — uma vez que atendem a uma parcela significativa (e cada vez maior) de consumidores preocupados com questões ambientais e sociais. Também tendem a ser negociados mais rapidamente, ou seja, seu tempo de permanência no mercado é menor.

  • Diversidade nas equipes

Os times de corretores passam a ter mais diversidade étnica, cultural e de gênero. Assim, contam com diferentes perspectivas e, por consequência, são mais criativos. Essa abordagem também permite que as equipes estejam preparadas para atender todos os perfis de clientes por meio do entendimento de suas necessidades.

  • Diversificação de portfólio

A inclusão de imóveis ESG no portfólio de imobiliárias atrai um número maior de clientes, de investidores institucionais focados em sustentabilidade a compradores que desejam um estilo de vida mais verde. Já a incorporação de inovações sustentáveis pode contribuir para que a imobiliária seja reconhecida como líder em práticas inovadoras — aspecto significativamente positivo para os negócios.

  • Financiamentos e investimentos

As imobiliárias que atendem aos princípios ESG podem proporcionar acesso facilitado a financiamentos verdes para seus clientes, com taxas de juros mais baixas e melhores condições de pagamento. Além disso, são mais atraentes a investidores que desejam incorporar critérios verdes em suas opções de investimento.

Em locações de imóveis

Assim como na compra e venda, tais princípios também refletem na locação de imóveis:

  • Atração de inquilinos

Os inquilinos têm procurado, cada vez mais, imóveis alinhados a seus valores ambientais e sociais. Propriedades que demonstrem comprometimento com práticas sustentáveis são, nesse sentido, mais atraentes. Além disso, imóveis com características ESG podem melhorar a qualidade de vida de seus moradores, fator que eleva sua satisfação — e retenção.

  • Sustentabilidade e redução de custos

Sistemas de água reutilizável e eficiência energética reduzem custos operacionais. E imóveis com foco sustentável costumam usar materiais mais duráveis, o que pode reduzir os gastos e a frequência de manutenções.

  • Competitividade

Imóveis ESG oferecem diferenciais que atraem atraindo inquilinos e investidores interessados em sustentabilidade e responsabilidade social — e estão melhor posicionados para se adaptarem a regulamentações ambientais e sociais no futuro, aspecto que evita custos adicionais de conformidade.

  • Relacionamento com stakeholders

Práticas de ESG ajudam a construir relações de confiança duradouras com inquilinos, fornecedores e comunidade local, aspecto extremamente relevante para a reputação do negócio. Já os proprietários e gestores de imóveis com tais características atraem investimentos de fundos e investidores que valorizam critérios de sustentabilidade em suas alocações de capital.

Conclusão

A integração dos princípios de ESG às operações e estratégias de negócios no mercado imobiliário tornou-se condição essencial para atender às exigências regulatórias, que são cada vez mais acirradas, e às crescentes demandas e expectativas dos consumidores. Todavia, deve-se considerar que a adoção de tais práticas, além de garantir um futuro mais sustentável e promover responsabilidade social, governança estruturada, ética e transparência nos negócios, representa um poderoso e inestimável diferencial competitivo para as empresas do setor.