Desde o advento da pandemia de covid-19, vivenciamos, com toda certeza, um rearranjo das vidas pessoais, empresariais e econômicas. Um tipping point (ponto crítico), como descreveu o jornalista e escritor Malcolm Gladwell. Ou, em outras palavras, uma ruptura em nosso jeito de viver e encarar o mundo, como ocorre em meio a crises, guerras e revoluções tecnológicas.
Porém, além das adversidades do ponto de vista humanitário, econômico e de saúde pública, o novo coronavírus trouxe muitas transformações e aprendizados. Em relação aos negócios, aliás, vale ressaltar que nenhum segmento econômico passou ileso.
É o caso do mercado de locação de imóveis, que sofreu impactos significativos neste período. Os imóveis comerciais, por exemplo, atravessaram momentos difíceis com a necessidade de distanciamento social e o IGP-M sofrendo altas consecutivas.
Outros fatores, nesse sentido, foram os inquilinos com negócios paralisados (e, portanto, sem receitas para honrar com seus compromissos) e os proprietários com suas fontes de renda prejudicadas pela vacância ou renegociação de valores — além da pressão dos custos de manutenção e operação (condomínio, IPTU etc.).
O cenário, claro, foi mudando de forma gradual, reaquecendo o mercado. Porém, também trouxe mudanças comportamentais. Para quem se adaptou ao trabalho remoto, as respectivas famílias tiveram que repensar sua ocupação, reorganizar o lar para ocupá-lo também com trabalho e a escola remotos. Isso muitas vezes significou buscar um espaço maior ou diferenciado — inclusive, em muitas ocasiões, evoluindo para migrar de uma região para outra.
E a verdade é que a pandemia nunca vai terminar — no sentido figurado, claro. Superada a paralisia dos negócios, a questão da inadimplência (por negócios fechados e sem receitas, além de pessoas sem renda) e a repactuação de contratos, a tendência é que persista um novo comportamento do consumidor, que exprime a necessidade de adaptar-se ao home office ou trabalho híbrido, com maior conectividade, contatos por vídeo, redimensionamento e reorganização de espaços.
O digital e o futuro (ou presente) do mercado imobiliário
O setor imobiliário se recuperou ainda num momento crítico da pandemia. Em 2021, voltou a aquecer com a busca por mais espaço e pela readequação da ocupação para pessoas físicas e jurídicas. O consumidor, porém, mudou sensivelmente e passou a exigir atendimento mais rápido e eficaz — além de serviços em outros formatos.
A imobiliária, portanto, passou a ter que entender cada vez mais e melhor quem é seu cliente, assim como sua jornada de compra — seja ele comprador, vendedor, proprietário ou inquilino.
Nesse cenário surgiram portais ou marketplaces com novas ofertas e serviços, oferecendo riscos e oportunidades para as imobiliárias. E o setor imobiliário, vale notar, acelerou sua digitalização. A consultoria Deloitte, por exemplo, projeta que 40% dos negócios imobiliários, seja de compra ou de locação, serão realizados totalmente on-line até 2040.
A digitalização ainda é um grande desafio e um longo percurso para o setor. Mas a “corretagem digital”foi uma necessidade da pandemia para lidar com o isolamento — e também passou a ser um desejo do consumidor, tanto que levou ao surgimento de plataformas de negócios imobiliários on-line.
Assim, websites, redes sociais, chats e WhatsApp, entre outros canais, passaram a fazer parte do dia a dia da imobiliária. E, para entregar esse atendimento personalizado, ágil e eficaz, é necessário que continuem a investir em tecnologia. Também é fundamental que se mantenham atentas a novos negócios e serviços que gravitam no entorno, como serviços jurídicos, crédito para reformas, aluguel fracionado e garantias, entre outros.
Para todos os efeitos, isso significa que a imobiliária precisará, cada vez mais, participar da solução das diversas fases do processo.
Perspectivas do mercado de locações
O futuro do mercado de locações também será digital. Especialistas em consumo já apontam que 97% da intenção de compra começa on-line em qualquer mercado. Ou seja, mesmo que seja um produto que demande um processo físico, não importa — o cliente começa sua jornada pela internet.
Soma-se a isso o novo mindset do consumidor. Em 2021, a ConQuist Consultoria fez um estudo buscando identificar o que mudou no consumidor brasileiro na pandemia. A conclusão é que 71% dos entrevistados passaram a preferir as compras on-line.
Independente dessa ótica, todavia, o mercado de locação tem boas perspectivas para 2023. Em primeiro lugar, pela visão da geração Y (nascidos entre 1981 e 1995) — que não compartilham o sonho da casa própria com a geração X (1965 a 1980) e os babyboomers (1946 a 1964), de acordo com diversos estudos.
O mercado imobiliário se aqueceu na pandemia, e a expectativa é que se mantenha assim. Um dos portais de locação de imóveis tem divulgado, há dez meses consecutivos, alta nos preços de locação. Os valores das medidas na cidade de São Paulo, por exemplo, já estão em patamares pré-pandemia.
As imobiliárias que atuam com locação devem, assim, atuar em meio a um cenário positivo — e, ao mesmo tempo, lidar com os desafios provenientes de um consumidor mais conectado e com novas exigências, da digitalização da empresa e da convivência ou concorrência de marketplaces e proptechs.